sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Primeiro Dia - 10 Km - Natação

Chegou a sexta-feira. Com o adiamento da largada para 9:00 conseguimos tomar café no hotel mesmo. Não consegui comer muito, estava muito tenso. Saímos do hotel 7:30 e chegamos com quase uma hora de antecedência. 

A temperatura era bem próxima de zero, difícil de não ficar preocupado! Fui até o lago sentir a temperatura da água, no caminho me disseram que estava entre 12 e 13 graus, o que serviu de consolo por estar mais quente que o ar. De qualquer maneira aquela seria a travessia mais fria da minha vida.

Eu e o Guilherme levamos a bike até o cavalete e abastecemos a “fuel cell” do guidon com água e GU Brew, um isotônico com uma concentração maior de carboidratos, pois devido o frio eu não suaria tanto mas precisaria de toda a energia.


Guilherme e André (fundo) levando o caiaque para a água.

Vesti a roupa de neoprene cuidadosamente empastelado de “geléia de petróleo” para não deixar o atrito da minha pele com o a roupa acabarem com a prova logo no início. Touca, luva, óculos, tudo ok! Vamos pra linha de largada!

O André já estava alinhado com o caiaque e estava quase na água. Eu, que já estava dentro d´água puxei o caiaque dele para que não molhasse o pé e ficasse passando frio pelas próximas horas. Mostrei os detalhes da manga da minha roupa de neoprene para que ele me localizasse mais facilmente. Ele saiu remando e os 39 caiaques ficaram boiando, aguardando a largada para cada um achar o seu respectivo atleta.

Chegando na rampa fomos convocados a ficar em um círculo e darmos as mãos pois seria feita uma prece. A diretora da prova, “Sway” leu algumas bonitas palavras desejando boa sorte e invocando seja lá qual entidade que acreditássemos para nos proteger, guiar e levar a gente até a linha de chegada dois dias depois.

Últimas palavras de boa sorte da diretora da prova.
Foto oficial dos 39 antes da largada.

Fotos oficiais foram tiradas e entramos na água, dava pra cortar a tensão no ar com uma faca. A contagem regressiva de 10 segundos se iniciou e em um instante me vi mergulhando naquela água gelada e iniciando a primeira perna daquela jornada.


Foi dada a largada!
Nossos apoios nos caiaques.
Vista da largada da torcida.

A largada foi bem tranquila. Larguei mais atrás e sem pressa. Diferente do Ironman, que tem mais 2000 atletas brigando por um espaço na água, nos distanciamos rapidamente uns dos outros. As luvas e a botinha de neoprene estavam cheias de água e, vencidos os primeiros 100 ou 200 metros, comecei a sentir que estavam atrapalhando mais do que ajudando. O frio não estava tão insuportável como eu previa e isso me acalmou muito.

Depois de uns 400 m o André emparelhou o caiaque comigo e eu pude parar um pouco e tirar as luvas e as botinhas. O pé ficou bem gelado mas as mãos se acostumaram com facilidade à nova condição.

Nossa estratégia era de que o André faria toda a navegação. Estando em cima do caiaque ele faria o papel de uma raia de piscina para mim. Essa foi uma das melhores estratégias pois quem não a adotou fez muito zigue-zague. A alimentação seria a cada 1000 m, o que eu já adotava nos treinos. Isotônico em todas as paradas e géis nas paradas pares. Nos 5000 meio sanduba com pão de forma, geléia e queijo. Na terceira e na sétima parada meia Powerbar.

Viramos os primeiros 1000 m na casa dos 17 min. Ritmo forte comparado com o que tínhamos previsto, o que preocupou o André. A previsão era de virar os 1000 m com 20’. Ele me pediu para aliviar um pouco o ritmo.


Visual do Lake Conway, caiaques e atletas.
Para fazer os 10000 m no Lake Conway é necessário nadar bem perto à margem e a grande vantagem disso é que fiz um tour panorâmico, me distraindo a cada nova casa ou quintal que aparecia entre as minhas braçadas e respiradas. Outra vantagem foi a possibilidade de ver o fundo do lago em grande parte do percurso, dando a sensação de que eu realmente estava evoluindo, o contrário é muito comum nas travessias, a gente nada, nada, nada e parece que não vai chegar nunca ao objetivo. Alguns peixes e muita vegetação me distraíam.

Com aproximadamente 2000 m fizemos a segunda parada quase embaixo da ponte onde muitos integrantes das equipes de apoio estavam. A Carol e o Guilherme estavam lá, na maior torcida e gritando palavras de apoio. Foi muito gostoso revê-los.






Fotos na passagem dos 2000 m na natação

Continuamos nadando/remando e os splits continuavam em torno dos 17’ – 18’/1000m. Com 5000 m, após uma breve pausa para comer o meio sanduba e passar mais lubrificante no pescoço, apesar de não estar me sentindo cansado, eu diminuí o ritmo mesmo. Ainda tinha muito chão pra me desgastar na natação e "jogar seguro" foi minha cartada.

Adiamos o reabastecimento dos 6000 m em alguns minutos para podermos parar perto da ponte e encontrar a Carol e o Guilherme mais uma vez e trocar uma meia dúzia de palavras.



A tal ponte onde o Guilherme e a Carol ficaram acompanhando
na torcida e me enchendo de ânimo nas duas passadas
A Carol passando frio esperando eu e o André passarmos.

Ao parar ouvi do Guilherme que estava em décimo terceiro! Uma surpresa boa e consequência de uma boa alimentação, ritmo dosado e navegação impecável do André.

A cada pausa nós conversávamos um pouco e o André fazia uns testes para ter certeza que eu não estava entrando em um estado de hipotermia. Contar de zero a dez, dez a zero, em português, em inglês, até japonês ele pediu, mas esse último eu não contei, falei umas palavras que não posso escrever aqui e continuei nadando. Embora pareça uma bobeira todo esse esmero mostra o nível de preocupação e que a equipe de apoio teve durante os três dias.


Alguém aí viu uma bóia?

Aproximadamente com 8500 m percorridos, antes da última bóia, passávamos bem próximo da margem em um ponto muito raso, aproveitei para variar um pouco e andei uns 10 ou 20 passos com a água no joelho. Foi muito bom dar uma variada na posição e soltar um pouco os braços, conversei um pouco com o André e ele me tranquilizou, me mostrando em que rumo estava a chegada.

Seguindo as orientações do André variei um pouco o estilo nos últimos 1000 m alternando o crawl com costas e peito.

Saí da natação após 5740 braçadas na décima colocação e muito feliz  (não é brincadeira, o GPS contou cada uma delas). A modalidade que tinha me deixado mais apreensivo nos últimos dias devido o frio tinha sido bem mais tranquila que o esperado. A equipe inteira junto com os meus pais, os Baylor e o Phil estavam me esperando na rampa. O Guilherme foi me contando da excelente performance dos outros brasileiros, Renato que tinha saído em primeiro e o Bernardo que saiu em quarto.




A saída da água.
A transição foi no porta-malas da “rock´n´roll” van, que foi deixada ligada e aquecida. Tirei a roupa de borracha e a Carol me ajudou a me secar. A temperatura tinha subido para 9 graus mas ainda era muito frio para ficar molhado e pegar todo o vento no ciclismo. Com muito cuidado para não fazer algum movimento brusco e de repente travar o ombro ou um braço, fui me vestindo, manguito térmico, duas camisas de ciclismo de manga longa, um colete quebra-vento, uma luva “full fingers” e uma meia de compressão. Abrimos o porta-malas quando já estava quase pronto e pude curtir um pouco da companhia daquelas pessoas tão queridas por alguns minutos. Entre uma peça e outra de roupa eu dava uma colherada em um “cup noodles” quentinho, uma delícia!

Renato saindo em 1o. lugar da água

5 comentários:

  1. No freezing. O circuito da natação era ida volta ida volta, triangular...?

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    1. Laerte, o circuito da natação teórico está em http://ridewithgps.com/routes/6988534, o executado você pode ver em https://www.strava.com/activities/258718668 . [ ]s

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  2. Hoje, 14/04/17, aqui em Venda Nova do Imigrante, relembrando e narrando a sua saga para os tios daqui. Admiração e orgulho ti meu amigo. Abraços!

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